Ainda não fui capaz de escrever dignamente sobre Dublin e já passou um mês. Sobre ter dois italianos a alimentar-me a pasta e vinho e jogos do Wii, sobre tentar convencer duas lésbicas da gay parade a virem-se casar a Portugal, sobre torcerem-me um braço por eu não querer dançar num concerto de uma banda de tributo aos U2 que inclui invasões de palco dementes, sobre como é má educação estar num pub sem uma pint de Guiness na mão, sobre como é complicado beber um Irish Coffee a escaldar no meio de um mosh, sobre ficar sentada na relva ao lado do Oscar Wilde, sobre como um ruivo sardento de Trinity College me lembrou de como quero voltar a estudar, sobre como é ver o Mundial em sports bars cheios de adeptos da equipa oposta, sobre estar sentada à mesa com cinco ou seis nacionalidades diferentes. Não consigo muito bem escrever sobre a viagem à Irlanda porque o meu domínio do português não chega para explicar como aquilo tudo me fez bem e me arrumou o Tetris mental que por aqui andava disperso e em modo Game Over. É mais fácil escrever-se sobre estar triste do que sobre estar feliz. Na tristeza parece que o peso das palavras as faz rebolar com a lentidão necessária; na alegria, parece que tudo soa tolo e adolescente. A tristeza traz solidariedade; a felicidade parece que ofende quem a ela está a assistir. Lidamos muito mal com a felicidade genuína dos outros, com a sensação de “eu gosto da minha vida como ela é”. E eu gosto. Muito. Só que andava meia esquecida. Lembrei-me algures em Temple Bar.