The cure for boredom is curiosity. There is no cure for curiosity.

10
Jun 11

Às vezes tenho tantas saudades tuas que me sinto como se tivesse levado com uma bola de basket no nariz.

publicado por Miss November às 14:54

24
Mai 11

 

Estas férias eu fui à China, que é um país que fica muito longe e tem muitas pessoas que andam todas aos encontrões na rua e assim. Havia muitas bandeiras na rua e muitas estátuas e imagens de um senhor rechonchudo chamado Mao Tse Tung, que eu acho que é o apresentador lá do “Preço Certo Em Renmibis”.

Primeiro fui a Hong Kong, onde há prédios muito feios, prédios muito bonitos e bocados de selva. Há muitos centros comerciais para fazer compras e templos para dar laranjas a estátuas douradas. O tempo lá é muito húmido, por isso fiquei com o cabelo parecido com o do Michael Bolton e fiquei com medo.

Mas ainda quando estava em Hong Kong, acordei um dia igual ao Meat Loaf, o que de início me meteu ainda mais medo. Mas depois lembrei-me que o Meat Loaf entra no “Fight Club”, que é um filme do qual eu gosto muito onde há dois meninos que afinal são só um e andam sempre ao sopapo. É muito giro. Fui ao hospital, onde um senhor que falava um bocadinho de inglês me disse que eu tinha um abcesso. Foram muito simpáticos, apesar de me chamarem sempre Susana Rita. No final, ofereceram-me os medicamentos no hospital e depois o meu pai disse que os comprimidos às cores tinham sido uma prenda porque a China é comunista. Fiquei com medo, porque não quero comer crianças ao pequeno almoço. A não ser que saibam a Chocapic.

Também fui a Macau, que dantes era Portugal porque o Salazar queria. Há pasteis de nata em todo o lado, mas sabem a pudim e não são assim muito bons. Há muitos casinos e casas de penhores para pagar os casinos. As coisas estão traduzidas em português, mas ninguém fala português e quando querem gritar com os ocidentais, gritam em chinês. É muito giro.

Depois fui para Xangai, que tem muitas luzes e parece que é sempre Natal, mas em quentinho. Tem prédios muito grandes e muito giros e um rio e jardins. As discotecas parecem as dos filmes e há muitas meninas a dar beijinhos noutras meninas e taças de melancia para acompanhar o whisky. Não há assim muitas coisas antigas em Xangai, porque deitaram fora por causa da Revolução Cultural. Eu acho que é por isso que em Portugal querem acabar com o Ministério da Cultura.

Depois apanhei comboio para Pequim. A viagem dura a noite toda, por isso dormimos numa caminha muito gira. Não tomei banho nem nada, foi espectacular. Eu gostei muito de Pequim, é a minha cidade chinesa preferida. Comi o pato deles e gostei ainda mais do que de bife com batatas fritas. Mas ao jantar comi insectos fritos e já não gostei assim muito e vomitei e tudo. Em Pequim há a Cidade Proibida e a Praça de Tianamen. Também vi um espectáculo de acrobacia chinesa, onde as pessoas faziam coisas muito difíceis, como andar de bicicleta e assim. Eu não sei andar de bicicleta, por isso fiquei muito espantada. Havia outro truque com guarda-chuvas. Esse não gostei tanto, porque sei usar guarda-chuvas.

A Grande Muralha da China é de facto muito grande, mas dá para descer de escorrega. É muito divertido, porque quase morrer é sempre muito divertido.

Eu gostei muito das minhas férias na China. E quero muito voltar. Não quero é ter jet lag, está bem?

publicado por Miss November às 00:19

26
Abr 11

Fui criada numa casa onde o roupeiro do quarto dos meus pais era revestido a autocolantes do Che Guevara e da Maria de Lurdes Pintansilgo. Onde o meu pai me deitou fora uns ténis cor-de-laranja porque filha sua "não anda com coisas da cor do PSD". Onde já adolescente encontrei um pin da LUAR que ninguém me quis bem explicar bem de onde vinha. Hoje sou eu que passo sempre o 25 de Abril na Avenida, apesar de o meu pai ter antes abraçado que neste dia a Primavera já vai alta que chegue para se ir para a praia.

O 25/4 sempre foi importante para mim, mas há dois anos atrás passou a ser mais. Será piroso dizer que tive uma "revolução interior", mas é verdade que assim foi. É uma pirosice com a qual convivo bem: afinal, não haveria dia melhor no calendário para me sentir grata. Obrigada aos meus capitães, venham eles de onde for.

publicado por Miss November às 14:40

19
Abr 11

Não há polegar tonificado por anos de prática de zapping que me faça escapar desta sina: é impossível passar por um canal de notícias sem esbarrar com um repórter em directo da porta do Ministério das Finanças. Reza a lenda pascal que lá dentro decorre uma última ceia na qual o FMI ditará de vez que devia ter levado mais a sério aquela altura em que pensei participar na lotaria do american green card.  Mas esta imposição jornalística de eu ter de levar com as paredes amarelas do Terreiro do Paço quarto-de-hora-sim/quarto-de-hora-não chega numa altura que a carrega de ironia. É que todos nós vemos as reportagens e pensamos “já nos andam a foder” – mas eu posso olhar para as colunas do Terreiro e acrescentar “eu já fui fodida ali”. Se isto não é poético, entrego já a minha alma ao FEEF sem passar pela casa da partida.

publicado por Miss November às 15:48

12
Nov 10

 

(ilustração fabulosa do Irmão Lúcia)

 

“Não gosto nada do Verão.”.

Achei a observação estranha porque tínhamos acabado de sair de um Inverno particularmente rigoroso. Para quem passava horas na rua, com o frio da noite a mastigar ossos e articulações, o fim da chuva e do vento devia ser um alívio. “Mas Lisboa fica tão vazia. E depois eu digo adeus a quem?”.

O João não gostava de ficar cá sozinho. Mas também nunca partia. Falava constantemente das suas viagens, mas sempre no passado. Não havia quase país onde eu pudesse comentar que ia de férias no qual ele já não tive estado. Viajou sempre muito com a mãe, “uma das primeiras mulheres em Portugal a conduzir”. Foram de carro até Marrocos e de transiberiano até à Rússia.  Sentia umas saudades dela que eram tão palpáveis que se sentavam à mesa connosco. Foi a sua morte que precipitou o “adeus” que afinal sempre foi um “olá”. Foi uma mulher que lhe deixou um vazio tão grande que era precisa uma cidade inteira para o preencher.

Conheci o João pelo Filipe, provavelmente o seu melhor amigo apesar da diferença de quase 50 anos entre ambos. Quando ele me disse que ia ao cinema todos os Domingos com o Senhor Do Adeus, quis logo juntar-me. Era figura pela qual tinha respeito e carinho mas, admito, achava bizarra. Chapada de luva branca: acabou por se revelar uma das pessoas mais sãs e bem resolvidas que alguma vez conheci. Uma lição que vou carregar com gosto pela vida fora.

Fazia sempre questão de tratar toda a gente que aparecia para o cinema domingueiro pelo nome. Em certas noites fomos muitos, mas sempre fez o esforço. “É Sandra?”. Susana, João. “Ai, desculpe lá. Esta cabeça já não dá para tudo. Susana. Eu vou lembrar-me”. Aquele engano incomodava-o mil vezes mais a ele do que a mim. Era um gentleman. E o certo é que acabou por se lembrar quase  sempre.  Generoso, conversador, acessível, o  Senhor do Adeus nem nunca foi Senhor João. Foi só João, mesmo.

Andava religiosamente com um saco de plástico, onde trazia as compras do dia do supermercado. Nunca vi ao certo o que lá estava dentro. Agora que penso nisso, nunca o vi comer. Era como se o João fosse um super herói de livros aos quadradinhos: sem nunca perder tempo como as necessidades do comum dos mortais, sempre com a mesma roupa e com um sentido de missão. Uma vez convidámo-lo para ir a uma peça de teatro. Mas era à tarde. “Ah, gostava imenso. Mas a essa hora estou a pegar no Restelo”. Aquilo que fazia era para levar a sério. Mas não tão a sério que um dia não me tenha perguntado, entre risos: “Onde é que eu devia abrir um franchising dos meus adeus: em Madrid ou em Barcelona?”.

Na última noite em que o vi, há duas ou três semanas, fazia 79 anos. Fomos os primeiros a chegar ao cinema e demorou cerca de duas frases a deixar escapar, como quem não quer a coisa, “hoje é o meu aniversário”. Mesmo à miúdo. O João era saudavelmente puto em muitas coisas, um menino da mamã que nunca cresceu verdadeiramente. Dizia sempre que não sentia a idade que tinha. Comentei que quando fizesse 80 anos devíamos juntar os amigos todos dele numa sala de cinema. Riu-se e disse que gostava. Não veio com aquele discurso típico de velho de “ui, para o ano sei lá se estou cá”. Porque o João não era velho. E preferiu passar o serão do seu aniversário a ver um filme de terror connosco do que a jantar com a família. “Pedi-lhes antes para ser almoço”. E eles perceberam? Encolheu os ombros. Os irmãos nunca perceberam muita coisa sobre as opções de vida dele. “Eles são mais velhos do que eu”, dizia várias vezes sobre os seus familiares que o calendário insistia em dizer que eram mais novos.

Nos últimos meses, falou-me com orgulho de como tinha sido entrevistado por uma revista de Milão, por um canal de TV espanhol ou mencionado num roteiro de Lisboa (vou sempre recordar como ficou triste por a Time Out Lisboa o ter entrevistado para um número sobre “cromos” da cidade. Não gostava nada de ser chamado de cromo.). “É viajar sem sair daqui, sabe?”. Quando lhe disse que ia para Itália em Agosto, mostrou-me o livro que andava a ler: um guia velho, amarelo e desactualizado de Florença. Porque gostava muito de arte e porque era novo esforço para partir sem deixar as pedras da calçada alfacinha.

Também estava muito orgulhoso por terem feito duas músicas sobre ela. Uma, um fado, chama-se “O Homem do Saldanha”. Mas agora já nunca ia para o Saldanha que o tornou famoso, por “já não ter tanta gente”. Preferia o Príncipe Real, cheio de “malta nova a ir e vir do Bairro Alto”. E agora o que é que dizemos ao senhor do fado, João? “Olhe, ele que faça mais uma música”.

O tal franshising espanhol: discordámos, como discordámos tantas vezes sobre filmes. Eu escolhi Barcelona, o João preferia Madrid. Mas era tudo uma piada, um saudável faz-de-conta, porque o João nunca ia sair de Lisboa. Nisso não discordávamos: é uma cidade mágica. Quantos mais viajo, mais o sei. E não é só por causa das colinas e da luz e do rio-quase-mar: é porque Barcelona ou Madrid nunca vão ter um João.  São as pessoas únicas que fazem as cidades únicas.

 

publicado por Miss November às 01:41

03
Out 10

publicado por Miss November às 20:29

publicado por Miss November às 20:26

22
Set 10

 

Gosto de encontrar  notas perdidas nos bolsos dos casacos de Inverno.

Gosto do queijo que fica crocante por sair para fora do pão das tostas mistas.

Gosto de receber telefonemas de outros fusos horários. Mesmo que implique um “ah, em Lisboa são três da manhã?”.

Gosto que a  minha sobrinha ache que eu tenho cinco anos.

Gosto de comida de avião.

Gosto de ver o sol nascer na varanda do Lux.

Gosto da Ginjinha Sem Rival, mesmo com o chão a pegar à sola dos ténis.

Gosto de conversar com o Senhor Do Adeus.

Gosto de comer Bolas de Berlim na praia, mas só quando tenho sal do mar nas mãos para o sabor contrastar.

Gosto de ler um livro de um dia para o outro.

Gosto do som das janelas do Messenger.

Gosto da árvore que tem as raízes a entrar-me quase pela casa adentro e que me avisa sempre das estações do ano.

Gosto do cheiro do verniz das unhas.

Gosto de me lembrar de onde me comprei todos os meus livros.

Gosto de mostrar Lisboa a quem não é de cá.

Gosto de sair para um café rápido mas acabar a só voltar para casa muitas horas depois.

Gosto de me espreguiçar, mesmo em público.

Gosto de acordar cedo. Desde que não seja com despertador. E também gosto de me deitar tarde. O que não combina nada bem.

Gosto de entrar numa sala cinema à socapa, sem sequer saber que filme está lá dentro.

Gosto de ver as flash interviews no final de um jogo. Mais do que gosto de ver o jogo propriamente dito.

Gosto de plasticina.

Gosto de baterias. E de bateristas.

Gosto de surpresas debaixo da porta.

publicado por Miss November às 00:48

25
Ago 10
publicado por Miss November às 22:41

Comida fabulosa. Homens desapontantes. Pés moídos. Cocomeros. Uscita. Vespas. Canais. Nódoas negras nos braços. Nódoas negras na conta bancária. Veneza grows on you. 52 euros por bolo de chocolate e capuccinos. Euro e trinta por um cone gigante de gelado. Em Roma fui pouco Romana. Festinha na aldeia com direito a acordeão. Mar feito caldo na costa adriática. Sorriso nos lábios. Certeza de regressar.

publicado por Miss November às 22:31

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